Toda vez que participo de um evento de Startups que envolve a apresentação de Pitchs é quase certo que boa parte deles vai começar com algo do tipo “A minha startup X vai revolucionar o mercado Y”. Depois de algumas dezenas de vezes que você escuta isso você simplesmente não acredita mais, e não é por acaso. Eu sempre achei esse tipo de coisa meio estranha, meio exagerada… mas não sabia explicar o porque isso parecia surreal de mais, até que a alguns anos atras li o livro “De onde vem as boas ideias” do Steve Johnson.
No fundo no fundo a teoria por trás do possível adjacente não é novidade alguma, mas parar para pensar nisso faz uma grande diferença. Os criacionistas que me desculpem mas, para a maioria dos terráqueos que já assistiram alguma espécie de aula de biologia na vida, não é muito difícil entender a lógica por trás da teoria da evolução. Todo mundo sabe que entre a sopa primordial e o ornitorrinco teve um caminho longo e uma série de experimentos muito mais esquisitos que o produto final, teoricamente bem sucedido.
O possível adjacente é exatamente aplicar a teoria da evolução de Darwin as ideias. Basicamente isso quer dizer que para você ter uma ideia que realmente vá mudar alguma coisa no mundo ela precisa, necessariamente, evoluir. E por tabela, quando estamos falando de inovação, isso significa que para ter ideias inovadoras você precisa estar na fronteira do conhecimento sobre determinado assunto. Dificilmente você vai ter uma ideia genial relacionada ao mercado imobiliário se você não entender a fundo como é a dinâmica desse mercado, quais são os reais problemas, os pontos fracos e etc. E para entender disso tudo você precisa se envolver muito mais do que ter alugado um ou dois apartamentos na vida.
Para deixar o possível adjacente ainda mais claro pense em um pião caminhando em um tabuleiro de xadrez. O pião não consegue dar saltos longos, para sair de um lado do tabuleiro e ir até o outro ele precisa saltar de casa em casa. Cada salto desses, no universo do possível adjacente, é a fronteira de conhecimento adjacente, e dai que vem o termo. Quando Santos Dumont inventou o avião, por exemplo, houveram inúmeros modelos falhos até chegar no 14-bis. Mas a cada modelo que não dava certo ele entrava em um novo possível adjacente com mais potencial e estava muito mais perto de ter sucesso do que alguém que nunca tinha tentado modelo algum. Isso é o possível adjacente, ou seja, ideias realmente inovadoras vem de pessoas que estão na fronteira do conhecimento humano.
Um outro ponto interessante é que dificilmente você vai estar sozinho na fronteira do conhecimento. Ainda no exemplo do Santos Dumont, nessa mesma época, tínhamos os irmãos Wright, em uma jornada muito parecida. E quase todas as ideias revolucionárias tem uma trajetória semelhante, pelo menos um par de inovadores estão “disputando” lado a lado a corrida pela inovação. Nesse cenário o Steve Johson ainda usa outra analogia com a evolução e ressalta a importância das ideias fazerem sexo. Ou seja, de não guardar a ideia apenas para você, de contar ela para o mundo! Só assim ela tem a chance de se chocar com outra ideia semelhante ou complementar e se transformar em uma ideia ainda melhor. Esse ponto é muito bem explorado neste TED do próprio Steve.
Voltando para os nossos Pitchs de Startups, o que eu quero dizer é que dificilmente a sua primeira ideia de negócio é a que vai dar certo por uma série de motivos. E a chance de ela realmente revolucionar o mercado é quase nula. Mas isso não deve te impedir de começar, de tentar. Entrar no mercado que você tem interesse, estudar ele, conhecer as nuâncias e fazer contatos vai ser ótimo para evoluir o seu conhecimento sobre este mercado e consecutivamente a sua ideia. Dessa forma você tem reais chances de, após um certo período de tempo, chegar na fronteira do conhecimento sobre o mercado que você quer atuar e, ai sim, estar próximo de um possível adjacente que realmente vá ser inovador e ter potencial para mudar a vida de muita gente.
Entender esse tempo necessário para a sua evolução como empreendedor e para a evolução da sua ideia é algo que poucas pessoas entendem. A maioria tende a achar que vai acertar de primeira ou quase de primeira, mas não é assim que as coisas funcionam na maioria das vezes. Entenda e aceite isso, comece algo, mesmo que esse algo não seja uma startup propriamente dita, que não escale e nem seja, de início, tão inovador. Com o tempo e dedicação necessária, de casa em casa o seu possível adjacente vai ter um potencial de inovação cada vez maior!