Definir um Gerente de Produto não é uma tarefa fácil. A profissão em si, como conhecemos hoje, existe a mais ou menos 25 anos, o que é relativamente recente, apesar de o conceito de Product Management ter nascido lá em 1931 com o “Brand Men” da Procter & Gamble. Seja como for, definir o que é e o que faz um PM é complicado, cada empresa adapta a função de um PM (inclusive o nome dado a ela) de acordo com a sua necessidade, o que cria uma variância enorme de definições.
Definindo um bom Gerente de Produto
Mesmo dentro de uma mesma empresa, é bem comum se ter visões diferentes do que um PM é ou faz. Lembro que quando escrevi o Playbook do “Product Owner da Resultados Digitais” (na época em que ainda chamávamos os Product Managers de Product Owners) fiz uma pesquisa informal com várias pessoas do time de produto da RD, de Designers e QAs a Tech Leaders e outros PMs, para entender o que eles esperavam de um gestor de produto. Se uníssemos todas as definições, o resultado era basicamente um super-herói… e pensando bem, talvez seja mesmo!
Um PM precisa ter uma série de habilidades, que algumas vezes são até um tanto quanto antagônicas. Por exemplo, é necessário ter excelente comunicação verbal e escrita, ser empático com clientes e membros do time, ter bom relacionamento com toda a empresa e, ao mesmo tempo, ser extremamente organizado, analítico (o famoso pensamento Data Driven) e gostar de passar horas estudando problemas e fazendo benchmarking. Acredite ou não, encontrar essas características em uma mesma pessoa não é fácil, e qualquer um que já teve que contratar um PM sabe do que eu estou falando.
Se não bastasse todas essas características, ainda existem muitas outras que são importantíssimas para você se tornar um bom PM, como conhecimento de negócio na área que você vai atuar, capacidade de priorização, capacidade de lidar com problemas não estruturados, ownership e, entre outras coisas, capacidade de liderança. Essa última, por sinal, para mim é uma das mais difíceis de se encontrar.
Um Gerente de Produto, como o nome diz, gere um produto e não pessoas. Isso quer dizer que nós, como PMs, não lideramos formalmente ninguém! Ao mesmo tempo, precisamos construir um produto e precisamos de pessoas para isso. Por tanto, a liderança de um PM precisa ser a mais genuína possível, precisamos liderar e inspirar as pessoas porque elas acreditam na nossa visão e não porque estamos mandando elas fazerem algo e isso, definitivamente, não é uma tarefa fácil.
Por todas essas características e definições que no clássico artigo Good Product Manager / Bad Product Manager do Ben Horowitz, ele define um Gerente de Produto como o CEO do produto, o que define bem a amplitude e a complexidade da função. Outra definição que eu gosto muito é a do Martin Eriksson, detalhada neste post, que coloca o PM em uma intersecção entre UX, Tecnologia e Negócios.
UX porque o PM é a voz do usuário, portanto precisa conhecer do assunto para criar um produto com uma ótima experiência. Tecnologia porque esse é o dia a dia de um PM, dessa forma ele precisa conseguir se comunicar com o time de engenharia e ao menos ter uma noção do que é factível e de como as coisas funcionam por debaixo dos panos. Por fim, negócios, porque esse é o papel fundamental de um PM, entregar valor de negócio para os clientes e para a empresa para qual ele está trabalhando.
Ou seja, um bom PM é, basicamente, um canivete suíço, que entende um pouco de muita coisa, com características que permitam com que ele transite entre diferentes universos (engenharia, design, marketing, vendas, negócios, gestão de projetos, liderança de pessoas e por aí vai) e consiga construir uma visão de produto que entregue valor de negócio para o cliente final e para a empresa, através de uma liderança genuína de uma equipe multidisciplinar.
A função de um bom Gerente de Produto
Além de todas as habilidades já citadas, para fazer com que de fato um bom produto seja entregue ao final do processo um bom PM, na minha visão, precisa se dedicar a fazer algumas coisas, entre elas:
- Definir muito bem a visão de futuro do produto, na grande maioria das vezes representada por um Roadmap (se você não sabe como construir um, clique aqui).
- Priorizar o que vai ser mais impactante para o negócio, não importa o contexto. Um bom PM tem que conseguir priorizar as modificações mais importantes para o produto independente das condições do ambiente. Sem exceções!
- Estar constantemente aprendendo e evoluindo os seus conhecimentos no negócio em que está envolvido. E para isso, entre outras coisas, é importantíssimo estar constantemente em contato com o cliente.
- Saber inspirar as pessoas e não apenas vender ideias.
- Evoluir todo o time com o qual trabalha para que eles também tenham um “pensamento de produto”, capacitando esse time para que eles consigam encontrar e criar as melhores soluções para os problemas priorizados. Desta forma, um PM trabalha mais como um Product Editor do que um Product Manager propriamente dito, como explicado nesse artigo do Andrew Chen.
- Saber que colocar uma funcionalidade em produção não é o fim, mas sim só o começo. Ou seja, se preocupar com a educação, experiência e sucesso dos clientes, para que eles possam adotar a funcionalidade desenvolvida da melhor forma possível e ficarem retidos nela por muito tempo.
- Ser auto-gerenciável e saber medir o próprio sucesso baseado nas suas entregas.
- Estar constantemente insatisfeito, saber que tudo sempre pode melhorar.
Alguns desses pontos que citei o Hemal Shah detalha e descreve muito melhor do que eu no excelente post The Modern Day Good Product Manager / Bad Product Manager, uma atualização do post original, já citado, do Ben Horowitz, escrito em 1997.
Por fim, apesar disso tudo que você acabou de ler, cada PM é único e mesmo existindo uma série de características e habilidades importantes para um bom Gerente de Produto, cada um tem as suas próprias características, habilidades e interesses, o que faz de cada PM um profissional singular. Essa “condição especial” de cada Product Manager é justamente onde está a graça do negócio e por isso é tão importante se ter um time de gestão de produto com bastante diversidade. Igualmente, é importante que você, como PM, tenha consciência dos seus pontos fracos e fortes, para saber como evoluir os seus pontos francos e para explorar as suas “boas” características, pois são elas que vão te tornar um PM fora de série!